Escrevo hoje em 20/12/2020 sobre a empresa Cielo, os dados mais recentes que usei nesta análise são os dados do 3º trimestre de 2020.
Breve histórico e contexto operacional
Segundo o FRE, a Cielo atua no setor de captura e processamento de transações originadas por cartões de diversas bandeiras, possuindo extensa cobertura nacional, com 1,6 milhão de estabelecimentos comerciais ativos (ref. 31/12/2019), tornando a empresa líder no setor de cartões de pagamento, não só no Brasil como na América Latina, possuindo uma participação de 41% no mercado brasileiro.
Guerra das maquininhas
A Cielo estava operando anteriormente numa situação boa, quando adquirir uma maquininha de cartão da Cielo representava para o comerciante um aluguel mensal para toda a vida, mais o pagamento de taxas por transação, taxas altas, inclusive.
A revolução no setor aconteceu de forma muito rápida, ao ponto dos jornais chamarem de guerra das maquininhas, hoje em dia as empresas neste setor oferecem aos comerciantes taxas de transação cada vez menores, com maquininhas cada vez mais baratas e sem o aluguel mensal, neste sentido, observamos um setor com extrema competição.
A tendência geral para o futuro é que este setor se torne ainda mais competitivo e com margens cada vez mais baixas, em virtude da entrada de novos concorrentes (meios de pagamento) que não usam maquininhas, como os pagamentos via QR Code (mercado pago, interpag e outros) e o advento do PIX.

Conforme observa-se, apesar do aumento de volume capturado de 2017 para 2019 no setor de maquininhas, o Marketshare da Cielo caiu de 48,1% para 40%, sendo que tal número já foi de 53% em 2015 (FRE 2018 p. 90) e 57% em 2011. [1]
Análise de indicadores
Desta forma, como se comportou a receita anual da empresa e suas respectivas margens de lucro bruto e lucro líquido?



Se temos a Cielo trabalhando com margens cada vez mais baixas e com uma receita que não consegue superar o pico de 2016, ou seja, que está estagnada, qual é a tendência? na minha opinião, o marketshare da Cielo seguirá em queda, a medida em que mais Players do mercado entram neste setor, porém a tendência futura ainda é muito incerta.

Todos os players do mercado parecem estar dizendo a mesma coisa que eu, este é um dos motivos pelos quais eu não tenho ações da Cielo, hoje cotada a R$ 3,75 mas que em 2015 chegou a estar cotada a R$ 30,00
O que poderia levar algumas pessoas a comprarem ações da CIELO é a Heurística da Ancoragem, em finanças comportamentais, representa ancorar números externos numa tomada de decisão, por ela em 2015 estar cotada a R$ 30,00 as pessoas ancoram isso ao fato dela estar hoje cotada a R$ 3,75 e então compram a ação na vã esperança de que um dia ela esteja novamente cotada a R$ 30,00 – sendo que os anos dourados da empresa não estarão de volta, o mercado hoje em dia mudou para uma competição acirrada na qual a Cielo está lentamente perdendo.
Em quem o mercado está apostando
Uma breve olhada no gráfico do valor das ações Cielo de 2018 pra cá mostra que a empresa não está se movimentando pra cima, estando em R$ 24 em 2018 para R$ 3,75 – uma desvalorização de 84,42%
Já se olharmos um certo concorrente da Cielo, a Stone, cujas ações estão listadas na Bolsa NASDAQ nos EUA – estando cotada em US$ 31,09 em outubro de 2018, está hoje cotada a US$ 84,29 – uma valorização de 171% – para uma empresa que, segundo o FRE 2020 da Cielo, possui um marketshare de 8,5%
Dá pra ver que o mercado está apostando na Stone, que tem um valor de mercado 12 vezes maior que a Cielo e estando negociada com um P/L de 164x [2]
Conclusão
Eu ficaria de fora de qualquer empresa do setor de pagamentos por enquanto, a Cielo mostra que continuará brigando neste setor competitivo, porém se nada for feito, a tendência é ela continuar perdendo marketshare, obviamente não de forma acentuada e rápida, mas de forma lenta e gradual ao longo dos anos, conforme mais empresas entram neste setor.
Inclusive o Banco Inter é o mais recente player a integrar a guerra das maquininhas. [3]
A empresa não se mostra em situação financeira frágil, apesar da queda no lucro líquido, ela ainda dá lucro e tem uma liquidez corrente dentro da média, é investida do Banco do Brasil, por aí vai, não que a empresa vá quebrar, mas se ela manter as receitas estagnadas já é uma vitória.